A relação de amor entre Morten Harket e o Brasil é antiga e firme. Como com uma amante casual, ele se encontra com o país e tempos em tempos tendo a certeza de que será divertido. O ex-vocalista do trio norueguês a-ha esteve no país diversas vezes com sua banda, inclusive tendo alcançado uma vaga no livro dos recordes no Rock in Rio 2, quando levou quase 200 mil pessoas ao Maracanã. É possível dizer, inclusive, que ele conheceu o país melhores que muitos brasileiros, já que frequentou cidades fora da rota comum para shows internacionais e passa longe daqueles lugares batidos para onde artistas gringos são levados por aqui.
“Não sou um bom turista, não me interesso por lugares turísticos, mas sim pela vibe dos lugares. O habitat, o natural. Até porque você não encontra os nativos em locais turísticos! Gosto mais do lado real do país”, conta ele por telefone à Rolling Stone Brasil. Quando se trata daqui, especificamente, nem ele mesmo consegue tecer uma teoria que explique a forte atração que os brasileiros têm com o som que ele e o a-ha produzem/produziam. “É uma coisa do coração, de alguma forma. Simplesmente é algo que sempre existiu”, diz. “Não consigo explicar.”
Parte desse grande sucesso pode ser creditado ao hit monstruoso “Take on Me”, que explodiu e deixou gente no mundo inteiro aflita, temendo pela vida de Morten no videoclipe oficial da canção (veja abaixo). Não tão aflitas quanto essas ficariam ao ir em um show e ir embora sem ouvir a música, certo? Morten jura que não é bem assim. “Por um bom período, a gente não incluía “Take on Me” no setlist. Algumas pessoas reclamam, mas tem gente que prefere ouvir outras coisas”, explica ele, que canta hits do a-ha na atual turnê. Morten não é do tipo que se zanga com o fato de uma música, que foi logo o primeiro single do primeiro disco do grupo, ganhar mais atenção do que qualquer outra coisa que ele vá colocar no mercado: “Não dá para brigar com isso, estou muito em paz com isso. Já foi amargo para a gente, porque tomava toda a atenção e a gente era muito mais do que ‘Take on Me’. Mas isso foi faz tempo e ganhou uma vida própria, independente da gente. Bater de frente com isso é tanto infrutífero quanto burro.”
“É só uma musiquinha, não é nada demais, só é divertida e cheia de personalidade e identidade”, afirma. “As pessoas gostam de ouvir e não gostam tanto pela experiência musical, mas mais pela memória afetiva. Todo mundo conhece tão bem que você nem descobre nada novo, foi tocada à exaustão por 25 anos. Todo mundo tem alguma associação para fazer com a música.”
O a-ha encerrou as atividades oficialmente em 2010 – ano em que fez turnê pelo Brasil, inclusive. Desde então, Morten se dedica somente à carreira solo. Em maio deste ano, lançou o disco Out of My Hands, motivo da nova visita dele a estas terras. O álbum, como a maioria das coisas que ele produziu tanto sozinho, como em grupo, passa longe do obscuro idioma norueguês e alcança um público maior tendo somente faixas compostas em inglês, fato para o qual ele não dá desculpas. “Toda a minha pessoa é bem ‘inglesa’, tenho uma mente internacional”, reflete. “Não me identifico compondo em norueguês. Não penso em norueguês nunca quando estou compondo”, explica.
“Foi assim que eu aprendi a amar música. Música da Inglaterra e Estados Unidos, majoritariamente, mas música internacional em geral. É minha segunda língua e foi como me tornei artista. O a-ha foi direto para a Inglaterra, a gente nunca nem discutiu ir para outro lugar.”
Ainda sobre o país nórdico onde nasceu, Morten admite ter bem pouco conhecimento a respeito da música saída de lá. “Nunca prestei muita atenção no que acontece no pop”, diz ele, generalizando para a cena de outros países. “Uso música como uma ferramenta artística e de comunicação. Quando me inspiro, componho. Mas não presto muita atenção em outras atrações. Não coloco música para tocar como uma trilha sonora para meu dia-a-dia”, diz contrariando o discurso da maior parte dos músicos.
Morten é tão distraído do que acontece na cultura pop que até o trabalho dele próprio escapa do radar: nunca assistiu à famosa versão da série animada Family Guy para o clipe de “Take on Me”. “Todo mundo vive me falando disso, mas nunca procurei. É bom?”, ri ele, encerrando a entrevista sob a promessa de pesquisar o divertido vídeo (que pode ser visto abaixo).
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